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Quando assistimos a uma apresentação de teatro é possível que a gente fique tão encantando a ponto de esquecer que se trata de uma história montada justamente para agradar ao público, independente do gênero que ela decide seguir.
Nesse sentido, o que permite que as cenas sejam desenvolvidas de maneira tão interessante é o desenvolvimento do Texto teatral, sobre o qual seguimos te explicando logo abaixo, inclusive em meio a exemplos acerca do mesmo. Confira:
O que é um Texto teatral?
Basicamente, um Texto teatral é aquele que é confeccionado diante da intenção de que seja encenado, ou seja, funciona como um roteiro para que os atores consigam desenvolver a história de acordo com aquilo que é pensado para cada personagem.
Sendo assim, as peças teatrais as quais assistimos são a realização de um texto anteriormente idealizado, que pode ter formato de prosa ou poesia, e contribui para a ambientação de cenas, perfil de personagens e o desenvolvimento de cada um deles ao longo da peça.
Como se faz um Texto teatral?
Quando falamos no Texto teatral e na realização do mesmo, é fundamental que comece tendo em vista o fato de que esse texto conta com uma estrutura a ser seguida, para que assim seja possível cumprir com o seu papel de maneira devida.
De tal maneira, há elementos que não podem faltar de forma alguma, sendo eles os seguintes:
- Gênero da apresentação;
- Contexto narrativo;
- Público-alvo;
- Personagens;
- Atos;
- Espaço.
A partir disso será possível seguir com a estrutura comum de texto, que inclui a introdução ao tema, o desenvolvimento do mesmo e um desfecho, ou seja, o final da peça, que tende a ser um momento marcante para todos.
Exemplos de Texto teatral
Abaixo, temos o exemplo do Texto teatral da obra Auto da Compadecida, de autoria de Ariano Suassuna. É bem provável, inclusive, que você lembre dessa cena, sendo curioso perceber como ela foi organizada
CHICÓ — Mandaram avisar para o senhor não sair, porque vem uma pessoa aqui trazer um cachorro que está se ultimando para o senhor benzer.
PADRE — Para eu benzer?
CHICÓ — Sim.
PADRE, com desprezo — Um cachorro?
CHICÓ — Sim.
PADRE — Que maluquice! Que besteira!
JOÃO GRILO — Cansei de dizer a ele que o senhor benzia. Benze porque benze, vim com ele.
PADRE — Não benzo de jeito nenhum.
CHICÓ — Mas padre, não vejo nada de mal em se benzer o bicho.
JOÃO GRILO — No dia em que chegou o motor novo do major Antônio Morais o senhor não o benzeu?
PADRE — Motor é diferente, é uma coisa que todo mundo benze. Cachorro é que eu nunca ouvi falar.
CHICÓ — Eu acho cachorro uma coisa muito melhor do que motor.
PADRE — É, mas quem vai ficar engraçado sou eu, benzendo o cachorro. Benzer motor é fácil, todo mundo faz isso, mas benzer cachorro?
JOÃO GRILO — É, Chicó, o padre tem razão. Quem vai ficar engraçado é ele e uma coisa é o motor do major Antônio Morais e outra benzer o cachorro do major Antônio Morais.
PADRE, mão em concha no ouvido — Como?
JOÃO GRILO — Eu disse que uma coisa era o motor e outra o cachorro do major Antônio Morais.
PADRE — E o dono do cachorro de quem vocês estão falando é Antônio Morais?
JOÃO GRILO — É. Eu não queria vir, com medo de que o senhor se zangasse, mas o major é rico e poderoso e eu trabalho na mina dele. Com medo de perder meu emprego, fui forçado a obedecer, mas disse a Chicó: o padre vai se zangar.
PADRE, desfazendo-se em sorrisos — Zangar nada, João! Quem é um ministro de Deus para ter direito de se zangar? Falei por falar, mas também vocês não tinham dito de quem era o cachorro!
JOÃO GRILO, cortante — Quer dizer que benze, não é?
PADRE, a Chicó — Você o que é que acha?
CHICÓ — Eu não acho nada de mais.
PADRE — Nem eu. Não vejo mal nenhum em abençoar as criaturas de Deus.
JOÃO GRILO — Então fica tudo na paz do Senhor, com cachorro benzido e todo mundo satisfeito.
PADRE — Digam ao major que venha. Eu estou esperando.
Entra na igreja.
CHICÓ — Que invenção foi essa de dizer que o cachorro era do major Antônio Morais?
JOÃO GRILO — Era o único jeito de o padre prometer que benzia. Tem medo da riqueza do major que se pela. Não viu a diferença? Antes era “Que maluquice, que besteira!”, agora “Não vejo mal nenhum em se abençoar as criaturas de Deus!”.
Abaixo, por sua vez, está disposto o texto teatral Busca ao tesouro, de Monteiro Lobato. Por sinal, ele é muito utilizado em escolas para propor apresentações
1ª CENA
Dona Benta: Bom dia! (ou Boa tarde). Gosto muito de contar histórias para as crianças. Hoje estou aqui para contar mais uma história muito interessante a vocês. É a história de um tesouro escondido. Um tesouro muito valioso. Todos que tinham alguns problemas e tocassem naquele tesouro, os problemas desapareciam. A nossa história começa quando Pedrinho sonha numa noite de luar.
Pedrinho: (Deitado em sua caminha, luar ao fundo, a boneca Emília entra)
Emília: Pedrinho, acorda. Você tem uma grande missão a realizar.
Pedrinho: O quê? (acordando) Quem está falando?
Emília: Sou eu, a boneca Emília. Não me conhece mais não? Sou a boneca de Narizinho.
Pedrinho: Boneca Emília? Mas bonecas não falam. Deve ser um sonho. Vou voltar a dormir. (deita-se)
Emília: Será que eu vou ter que beliscar o seu bumbum?
Pedrinho: Acho bom, pra eu ter certeza que não é um sonho.
Emília: (Se aproxima e belisca o seu bumbum)
Pedrinho: Ai, doeu sabia!
Emília: Você não pediu?
Pedrinho: Pedi, mas não precisava exagerar.
Emília: E então, está preparado?
Pedrinho: Preparado pra quê?
Emília: Preparado para encontrar um grande tesouro.
Pedrinho: Tesouro? Que tesouro?
Emília: O que você vai procurar.
Pedrinho: Mas é necessário que eu vá mesmo? Por que eu?
Emília: Porque você foi o escolhido.
Pedrinho: Essa história não está me cheirando bem. Mas se é para o bem de todos, diga aos seus superiores que eu vou.
Em 1945, Nelson Rodrigues escreveu Álbum de família, texto teatral que pode conferir abaixo, entendo como sua primeira cena foi idealizada
Cena 1
(Palco menor: cena mostra ângulo de um dormitório de colégio. Glória e Teresa entram rindo muito, como se brincassem de esconde-esconde. Ambas em finíssimas camisolas, muito transparentes. São meninas que aparentam 15 anos. Há entre as duas um ambiente de sonho. Quando a música termina, Teresa fala)
TERESA – Você jura?
GLÓRIA – Juro.
TERESA – Por Deus?
GLÓRIA – Claro!
(Nota importante: o sentimento de Teresa é mais ativo; Glória resiste mais ao êxtase)
TERESA – Então, quero ver. Mas, depressa, que a irmã pode vir.
GLÓRIA (erguendo a cabeça) – Juro que…
TERESA (retificando) – Juro por Deus…
GLÓRIA – Juro por Deus…
TERESA – … que não me casarei nunca…
GLÓRIA – … que não me casarei nunca…
TERESA – … que serei fiel a você até à morte.
GLÓRIA – … que serei fiel a você até à morte.
TERESA – E que nem namora.
GLÓRIA – E que nem namoro.
(As duas se olham. Teresa coloca o véu branco na cabeça de Glória; em seguida coloca outro véu sobre a sua própria cabeça. Abraçam-se.)
TERESA (apaixonada) – Também juro por Deus que não me casarei nunca, que só amarei você, e que nenhum homem me beijará.
GLÓRIA (menos trágica) – Só quero ver.
TERESA (trêmula) – Segura minha mão assim. (olhando-a profundamente) Se você morrer um dia, nem sei!
GLÓRIA – Não fala bobagem!
TERESA – Mas não quero que você morra, nunca! Só depois de mim. (com uma nova expressão, embelezada) Ou então, ao mesmo tempo, juntas. Eu e você enterradas no mesmo caixão.
GLÓRIA – Você gostaria?
TERESA (no seu transporte) – Seria tão bom, mas tão bom!
GLÓRIA (prática) – Mas no mesmo caixão não dá – nem deixam!
TERESA (sempre apaixonada) – Me beija!
(Glória beija na face, com certa frivolidade.)
TERESA – Na boca!
(Beijam-se na boca)
TERESA (agradecida) – Nunca nos beijamos na boca – é a primeira vez.
(Riem. Beijam-se novamente. Música de transição: Glória de Vivaldi em tom menor)
(Apaga-se a pequena cena do dormitório.)